O Domínio da Linguagem e a Interoperabilidade – Introdução

 em Go44, Interoperabilidade

O domínio da linguagem é algo almejado por muitos, entretanto, somente os mais sábios conseguem fazê-lo com eficiência. A forma como nos comunicamos diz muito mais de nós do que podemos imaginar. E isso não é apenas uma questão de perfil, ou seja, se a pessoa é mais extrovertida do que a outra ou mais alegre, mais cativante, mais séria, mais amorosa etc.; e sim se ela possui conhecimento real daquilo que está querendo passar. Podemos pegar como exemplo uma aula expositiva onde o professor queira apresentar um resumo de seu vasto conhecimento para alunos que ainda não o possuam e/ou sequer ouviram falar algo a respeito. O professor pode montar as melhores formas de apresentar o conteúdo que variem desde uma concepção teórica à uma exposição prática. Os alunos podem até se sentir confortáveis em um primeiro momento tendo a impressão de que estão compreendendo algo. Todavia, com o passar do tempo inicia-se um processo de confusão mental onde as informações apresentadas não se correlacionam mais amigavelmente àqueles que não tem domínio do tema. Desta forma, toma-se o início de um processo de desinteresse no assunto – fato que é muito comum por parte do ser humano. Os alunos frequentemente informam ao professor que não conseguiram entender tal conteúdo porque faltou exemplos ou exercícios práticos que solidificassem o que está sendo ensinado. Por um lado, eles estão corretos. A falta de instrumentação que permita um estudo mais voltado à dados dificulta qualquer processo de aprendizagem. Por outro lado, eles estão errados. Se houve dificuldade em compreender os conceitos, ou a abordagem metodológica adotada pelo professor foi equivocada com a anuência dos alunos ou os alunos carecem de conhecimentos básicos que dificultam a compreensão da matéria ministrada pelo professor ou o domínio da linguagem é deficitário tanto do transmissor (professor) quanto dos alunos (receptores).

A discussão dos tipos de linguagem está mais voltada ao âmbito da filosofia. Entretanto, é possível fazer uma relação bem consistente dela com a metodologia cientifica que estamos aplicando dentro da plataforma Go44. Para tal, trataremos de um outro conceito muito pertinente ao universo da Transformação Digital – a interoperabilidade. A interoperabilidade é mencionada quando se trata da relação direta entre sistemas. Normalmente esta relação elenca critérios de comunicação (fluxo de informações) que vão desde a esfera semântica até a técnica/operacional. É importante ressaltar que os sistemas mencionados aqui não são somente softwares de aplicação industrial ou comercial, mas sim um conjunto mais macro onde podemos citar como exemplo uma organização com inúmeros departamentos, de forma direta ou indireta, que estão interagindo o tempo todo. A interoperabilidade também atua na esfera organizacional podendo ser a resultante da esfera semântica e operacional. [1] desenvolveu um modelo onde relaciona os critérios semânticos, organizacionais e tecnológicos em 4 pilares que sustentam o conceito: (1) Negócios – Business; (2) Processo – Process; (3) Serviço – Service; e (4) Dados – Data. Ao longo dos próximos artigos, abordaremos cada um destes pilares à luz dos critérios da interoperabilidade no contexto da Transformação Digital. É comum vermos as grandes empresas que oferecem soluções tecnológicas e consultorias se aterem somente na esfera técnica crendo que ela é suficiente para superar quaisquer barreiras semânticas que venham a existir durante o processo de implementação da Transformação Digital. Na verdade, toda a questão que envolve o domínio semântico é determinante para o sucesso ou não da Transformação Digital em qualquer tipo de empresa. Negligenciar isso pode acarretar prejuízos e desinteresse dos profissionais ativos neste processo.

Em 2021 a plataforma Go44 vai conter um Módulo de Avaliação da Interoperabilidade onde se almeja mensurar o tamanho do impacto das barreiras já existentes na companhia e projetar formas de solucioná-las para que não impeçam a implementação da Transformação Digital. Além disso, estamos buscando melhorar a linguagem da apresentação da nossa metodologia de análise dos dados e consequente exposição dos resultados para que se tornem mais acessíveis aos profissionais que possuem carência no entendimento de certos conceitos da área. Por exemplo, somos questionados sobre o valor que um gráfico do tipo radar pode gerar numa reunião de alta gerência. Ressalta-se que o gráfico já faz parte de um tipo de linguagem ou uma conversão dela para procurar ser mais interpretativa aos nossos olhos. Pode-se dizer que algo não está bom apenas visualizando um gráfico seja ele do tipo radar, pizza, barras, linear etc. Contudo, não se pode dizer efetivamente quais são as causas daquilo que está sendo mostrado. Necessita-se de uma abordagem complementar que permita chegar nas possíveis causas, ou seja, alguma outra ferramenta de cunho lógico/matemático que possa auxiliar neste processo. É neste trabalho que concentraremos esforços ao longo do ano de forma a reduzir a subjetividade da análise dos resultados proporcionando uma linguagem semântica mais aderente ao campo de atuação de nossos clientes.

Nas próximas semanas abordaremos a interoperabilidade em torno dos 4 pilares e dos 3 critérios (diretamente relacionados com as barreiras) que foram mencionados ao longo do texto. A proposta é sempre almejar um domínio eficiente da linguagem. Domínio esse que tem forte potencial de eliminar as barreiras já existentes de compreensão de certos conceitos ainda em caráter muito vago e pouco acessível à nossa realidade. Uma vez feito isso, acreditamos que a Transformação Digital passará a ser vista com outros olhos.

Aguardem os próximos artigos! 😊

Referência:

[1] – D. Chen, M. Dassisti, B. Elvesaeter, H. Panetto, N. Daclin, F. W. Jaekel, T. Knothe, A. Solberg, V. Anaya, R. S. Gisbert, K. Kalampoukas, S. Pantelopoulos, K. Kalaboukas, M. Bertoni, M. Bor, P. Assogna, DI.3: Enterprise interoperability-framework and knowledge corpus-Advanced report deliverable DI.3, INTEROP NOE (Network of excellence on interoperability research for networked enterprise), 2007. Disponível online: (acessado em 08.01.21) http://interop-vlab.eu/wp-content/uploads/securepdfs/2017/04/DI.3_Enterprise-Interoperability-Framework-and-knowledge-corpus.pdf.

Sobre o autor

 

Luiz Felipe Pierin Ramos – Formado em Engenharia de Controle e Automação na PUCPR em 2009. Mestre em Engenharia de Produção e Sistemas em 2018 na PUCPR. Doutorando em Engenharia de Produção e Sistemas na PUCPR desde 2019. Atuou por 10 anos em grandes empresas como Renault, Electrolux, Mondelez, CNH e Volvo. Especialista em implementação da Transformação Digital e Indústria 4.0 em conjunto com o Lean Manufacturing.

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